Coloquei umas perguntas ao Miguel Laginha, empregado do IPN em Coimbra e parte da equipa responsável pelo projecto One.Stop.Transport e que também fez parte organização do RAW Open Data. Seguem as respostas em baixo.
De onde surgiu a ideia para o One.Stop.Transport? Quem são as pessoas que estão a levar o projecto avante? Quais os apoios que tiveram até ao momento?
A plataforma One.Stop.Transport é um dos resultado do TICE.Mobilidade, um projecto mobilizador que envolveu 26 parceiros a nível nacional, cujo objectivo é mudar o paradigma da mobilidade em Portugal através da criação de um ecossistema de aplicações e serviços com base em dados abertos. Um dos sub-projectos tem um carácter horizontal e consiste numa plataforma de dados abertos que disponibiliza informação de mobilidade aos outros, de carácter vertical. Esta plataforma - One.Stop.Transport - agrega dados abertos (open data) de vários *players* da mobilidade em Portugal e disponibiliza um ambiente de desenvolvimento a empresas que pretendam usar os dados para construir soluções inovadoras orientadas ao cidadão.
O projecto TICE.Mobilidade foi financiado pela AdI e pelo Compete num valor perto dos 5,5M€ ao longo de três anos e meio de projecto. Foi coordenado e liderado (informalmente) pelo Instituto Pedro Nunes, em Coimbra e contou com a participação de instituições do Sistema Científico e Tecnológico Nacional (SCTN) como de empresas.
Quantas apps tem registadas no sistema neste momento? Encontram-se todas funcionais?
Muitas das aplicações que estão registadas ou alojadas no nosso marketplace são resultado de concursos de aplicações ou de desenvolvimentos internos e, como tal, não apresentam um elevado grau de profissionalismo e/ou funcionalidade.
No entanto, já existem algumas aplicações profissionais e comerciais que exploram os dados abertos disponibilizados pela plataforma OST, de que é exemplo a Moovit e a OpenTripPlanner for Android, que têm milhões de utilizadores em todo o mundo. Estamos ainda em contacto com outras apps e serviços como o Rome2Rio, Transit App, AllRyder, CityMapper, entre outras, no sentido de vir integrar brevemente via OST e, assim, explorar o mercado nacional.
Tanto quanto sei o projecto nasceu em Coimbra, houve apoios da câmara municipal? Há contactos com outras entidades de outras cidades? Quais as cidades de portugal abrangidas pela plataforma ao certo?
O projecto nasceu em Coimbra e começou por abranger os Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra (SMTUC) - que pertencem à Câmara Municipal - mas rapidamente expandiu para outras cidades. Actualmente a plataforma OST tem dados de Coimbra (SMTUC), Aveiro (MoveAveiro), Lisboa (apenas Carris) e Porto (apenas STCP), e conta ainda com a colaboração da Transdev e CP num âmbito inter-urbano.
Quais os vossos fornecedores de dados? Foi dificil conseguir estabelecer contacto com eles? Disponibilizam os dados publicamente para além da ligação com a vossa plataforma?
Naturalmente, há operadores mais sensíveis à temática dos dados abertos que outros, o que se reflecte na receptividade para colaborar com esta initiativa. Foi sempre nosso objectivo sensibilizar os diferentes *players* para a importância de disponibilizar os dados e para o impacto que isso tem nos cidadãos, nas empresas e nos próprios operadores de transportes. Este é um caminho que temos vindo a percorrer e pretendemos continuar no futuro.
Alguns operadores já disponibilizavam os seus dados estáticos de forma livre e gratuita a terceiros antes de colaborarem com a plataforma OST. No entanto, a maioria usa a OST como único meio para publicar os seus dados de apoio ao passageiro, de forma estandardizada e estruturada segundo as melhores práticas internacionais associadas ao *open data*.
Qual o lag temporal dos dados em tempo real dos fornecedores?
Actualmente, a plataforma OST não disponibiliza dados em tempo real de qualquer fornecedor em Portugal. Isto prende-se com uma variedade de problemas e obstáculos verificados "no terreno", embora a plataforma suporte essa funcionalidade, tendo sido testada com dados abertos de outros países como o Reino Unido e os Estados Unidos.
Qual é a vossa principal dificuldade em obter mais fornecedores?
Há várias dificuldades no caminho que temos vindo a percorrer. Alguns fornecedores são muito protectores da sua informação, temendo a sua utilização "sem controlo" por terceiros. Outros operadores fazem uma utilização comercial e mutuamente exclusiva dos seus dados, o que inibe a disponibilização gratuita dos mesmos a potenciais concorrentes. Entre receios, proteccionismos e alguma falta de meios, é nossa convicção que o caminho será percorrido por todos, mais tarde ou mais cedo, como mostram os variadíssimos exemplos a nível internacional. O mais conhecido é talvez o caso de Londres, em que a TfL (Transport for London) começou por agir judicialmente contra os developers que faziam uso não autorizado de dados, sendo actualmente a promotora de concursos de aplicações anuais com os seus dados, dos quais surgem dezenas de novas aplicações de mobilidade.
Porque motivo é preciso registar-nos no site para usar as apps? Não seria mais userfriendly poder-se usar e pronto?
Essa obrigatoriedade já não existe, precisamente por ter sido uma das sugestões mais comuns enviadas por utilizadores da OST e que concordámos em resolver.
Quais os próximos passos para a evolução da plataforma? Estão à procura de ajuda? Em que aspectos podem as pessoas contribuir para a plataforma?
A estratégia futura passa por consolidar a plataforma e dar-lhe um âmbito mais alargado que o nacional, no sentido de criar valor e atingir um nível de sustentabilidade e viabilidade comercial. Há vários meios para atingir este fim, e estamos a considerar as várias possibilidades existentes.
A equipa da OST está aberta a sugestões de melhoria proveniente de utilizadores e, no geral, todo o *feedback* é bem vindo. Também vemos como muito útil todas as acções de disseminação espontâneas e orgânicas no sentido de dar a conhecer o projecto a mais cidadãos, empresas e operadores. Por exemplo, em Coimbra a maioria dos utilizadores de transportes colectivos ainda desconhece a existência de aplicações mobile de apoio ao passageiro disponíveis integradas com os SMTUC, e que poderia usar para se movimentar de forma mais eficaz e eficiente. No fundo, se as aplicações não chegarem às mãos dos cidadãos a plataforma OST não consegue ter um real impacto na vida das cidades.
Também estiveste envolvido com a organização do evento RAW Open Data, organizado pelo IPN e que decorreu 16 e 17 Outubro em Coimbra. Podes explicar melhor qual foi o seu objectivo e como correu?
O RAW Open Data teve como principal objectivo a discussão e a partilha de conhecimento e experiências dentro da comunidade open data. Com os temas abordados pelos diferentes oradores tentámos sensibilizar o público para esta temática e mostrar o potencial dos dados abertos para a sustentabilidade socio-económica da Europa.
O evento contou com participantes e oradores internacionais e de diferentes áreas de actividade, o que proporcionou a divulgação de projectos e iniciativas, a troca de ideias e um networking muito enriquecedor a todos os presentes.
Paralelamente ao evento, foi organizada uma hackathon em que os participantes tiveram à disposição dados da plataforma OST, da Universidade de Coimbra e do SAPO para a criação de aplicações móveis.
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